Biomecânica do Ombro Kapandji – 1 a 11, de 33 capítulos

Eu havia iniciado uma série sobre biomecânica do Kapandji… mas é um livro divertido que nem andar desçalço no asfalto no sol do meio-dia.

Eu cheguei à conclusão que o conteúdo original é chato e a tradução deixou mais chato ainda, ou seja, não há quem aprenda direito.

Daí eu fiz em vídeo, colocando as figuras ao lado do que ele descreve. E ficou até interessante de se estudar. Vejam e me digam se ficou bom.

Kapandji – Ombro – Parte 6

FLEXÃO E EXTENSÃO HORIZONTAL

É o movimento do membro superior no plano horizontal (fig. 1-8 e plano C da fig. 1-9) ao redor do eixo vertical ou, mais exatamente, em tomo de uma sucessão de eixos verticais, dado que o movimento se realiza não só na articulação escapuloumeral (fig. 1-2, eixo 4), mas também na escapulotorácica (ver fig. 1-37).

Posição anatômica: o membro superior está em abdução de 90° no plano frontal, o qual provoca a contração da seguinte musculatura:

– deltoide (principalmente a sua porção acromial, fig. 1-65, IIl),

– supraespinhal,

– trapézio: porções superior (acromial e clavicular) e inferior (tubercular),

– serrátil anterior.

Flexão horizontal, movimento que associa a flexão e a adução de 140° de amplitude, ativa os seguintes músculos: deltoide (fascículos anterointemo I e anteroextemo II em proporção variável entre eles e com o fascículo IIl), subescapular, peitorais maior e menor, serrátil anterior.

Extensão horizontal, movimento que associa a extensão e a adução de menor amplitude, 30-40°, ativa os seguintes músculos: deltóide (fascículos póstero-extemos IV e V, e póstero-intemos VI e VII em proporção variável entre eles e com o fascículo IIl), supraespinhal, infraespinhal, redondos maior e menor, romboides, trapézio (fascículo espinhal que se soma aos outros dois), latíssimo do dorso (em antagonismo-sinergismo com o deltoide que anula o importante componente de adução do latíssimo do dorso).

A amplitude total deste movimento de flexão- extensão horizontal alcança quase os 180°. Da posição extrema anterior à posição extrema posterior se ativam, sucessivamente, como se fosse uma escala musical de piano, as diferentes porções do deltoide, que é o principal músculo deste movimento.

Kapandji – Ombro – Parte 5

MOVIMENTOS DO COTO DO OMBRO NO PLANO HORIZONTAL

Estes movimentos desencadeiam a ação da articulação escapulotorácica (fig. 1-7):

a) posição anatômica;

b) retroposição do coto do ombro;

c) anteposição do coto do ombro.

Observar que a amplitude da anteposição é maior do que a da retroposição.

Movimento:

Anteposição: peitoral maior, peitoral menor, serrátil anterior.

Retroposição: romboides, trapézio (porção média), latíssimo do dorso.

Kapandji – Ombro – Parte 4

A ROTAÇÃO DO BRAÇO SOBRE O SEU EIXO LONGITUDINAL

A rotação do braço sobre o seu eixo longitudinal (fig. 1-2, eixo 3) pode ser realizada em qualquer posição do ombro. Trata-se da rotação voluntária (ou adjunta) das articulações com três eixos e três graus de liberdade. Em geral esta rotação se mede na posição anatômica do braço, que pende verticalmente ao longo do corpo (fig. 1-6, vista superior).

a) Posição anatômica, denominada rotação 0°: para medir a amplitude destes movimentos de rotação, o cotovelo deve estar necessariamente flexionado a 90° de maneira que o antebraço esteja no plano sagital. Se não tomarmos esta precaução, à amplitude dos movimentos de rotação do braço somar-se-ia a dos movimentos de pronação/supinação do antebraço. A posição anatômica, com o antebraço no plano sagital, se utiliza de maneira totalmente arbitrária. Na prática, a posição inicial mais utilizada, em razão do equilíbrio dos rotadores, é a de rotação interna de 30° com relação à posição anatômica, de maneira que a mão fique à frente do tronco. Poderíamos denominá-la de posição anatômica fisiológica.

b) Rotação externa: a sua amplitude é de 80°, jamais alcança os 90°. Esta amplitude total de 80° normalmente não é utilizada nesta posição, com o braço vertical ao longo do corpo. A rotação

externa mais utilizada e mais importante do ponto de vista funcional é entre a posição anatômica fisiológica (rotação externa -30°) e a posição anatômica clássica (rotação 0°).

c) Rotação interna: a sua amplitude é de 100º  a 110°, Para conseguir realizar essa rotação o antebraço deve passar necessariamente.por trás do tronco, o que exige um certo grau de extensão do ombro. A liberdade deste movimento é indispensável para que a mão possa chegar até as costas. É a condição para se realizar a higiene perineal posterior.

Com relação aos primeiros 90º de rotação interna, é exigida necessariamente uma flexão do ombro sempre que a mão estiver na frente do tronco. Os músculos rotadores serão estudados mais adiante. No que se refere à rotação longitudinal de braço nas outras posições que não seja a anatômica, não é possível medir de maneira precisa, mas sim mediante um sistema de coordenadas polares (trataremos disso em breve). Os músculos rotadores intervêm de maneira diferente em cada posição: uns perdem a sua ação rotadora, enquanto outros a adquirem. Isto é um exemplo da lei da inversão das ações musculares segundo a posição.

Kapandji – Ombro – Parte 3

A ABDUÇÃO

A abdução (fig. 1-5), movimento que afasta o membro superior do tronco, se realiza no plano frontal (plano B, fig. 1-9), ao redor do eixo anteroposterior (fig. 1-2, eixo 2). A amplitude da abdução alcança os 180°: o braço está em posição vertical por cima do tronco (d).

Duas advertências:

– a partir dos 90°, a abdução aproxima o membro superior ao plano de simetria do corpo; também é possível chegar à posição final de abdução de 180° mediante um movimento de flexão de 180°;

– do ponto de vista das ações musculares e do jogo articular, a abdução, a partir da posição anatômica (a), passa por três fases:

(b) abdução de 0° a 60°, que unicamente pode se realizar na articulação escapuloumeral;

(c) abdução de 60° a 120° que necessita da participação da articulação escapulotorácica;

(d) abdução de 120° a 180° que utiliza, além das articulações escapuloumeral e escapulotorácica, a inclinação do lado oposto do tronco.

Observar que a abdução pura, descrita unicamente no plano frontal, é um movimento pouco comum. Pelo contrário, a abdução associada com uma flexão determinada, isto é, a elevação do braço no plano da escápula, formando um ângulo de 30° em sentido anterior com relação ao plano frontal, é o movimento mais utilizado, principalmente para levar a mão até a nuca ou à boca.

Kapandji – Ombro – Parte 2

A FLEXÃO, A EXTENSÃO E A ADUÇÃO

Os movimentos de flexão e extensão (fig.1-3) se realizam no plano sagital (plano A, fig. 1-9), ao redor de um eixo transversal (1, fig. 1-2):

a) extensão: movimento de escassa amplitude, 45 a 50°;

b) flexão: movimento de grande amplitude, 180°; observar que a mesma posição de flexão a 180° pode ser definida também como uma abdução de 180°, próxima à rotação longitudinal (ver mais adiante o paradoxo de CODMAN).

Com frequência se utilizam, embora de modo errôneo, os termos de antepulsão para se referir à flexão e retropulsão para a extensão. Isto leva a uma confusão com os movimentos do “coto” do ombro no plano horizontal  e por isso é preferível não utilizá-los quando nos referimos aos movimentos do membro supenor.

A partir da posição anatômica (máxima adução), a adução (fig. 1-4) no plano frontal é mecanicamente impossível devido à presença do tronco.

A partir da posição anatômica, não é possível a adução se não for associada com:

a) uma extensão: adução muito leve;

b) uma flexão: a adução alcança de 30 a 45°.

A partir de qualquer posição de abdução, a adução, neste caso denominada “adução relativa”, é sempre possível no plano frontal, até a posição anatômica.

Kapandji – Ombro – parte 1

Olá. Vou postar os capítulos do Kapandji de forma a ficar mais amigável e fácil de compreender. É um dos melhores livros para profissionais de saúde que possuem no movimento articular uma fonte de estudos. É um livro que se torna por vezes confuso e complexo, vou tentar facilitar o aprendizado à medida que o meu também evolui. Se algo passou batido ou ficou confuso, usem os comentários para questionamentos.

FISIOLOGIA DO OMBRO

O ombro, articulação proximal do membro superior, é a mais móvel de todas as articulações do corpo humano. Possui três graus de liberdade (fig. 1-2), o que permite orientar o membro superior em relação aos três planos do espaço, graças a três eixos principais:

1) Eixo transverso, incluído no plano frontal:

  • Permite movimentos de fIexão e extensão, realizados no plano sagital (ver fig. 1-3 e plano A da fig. 1-9).


2) Eixo anteroposterior, incluído no  plano frontal:

  • Permite os movimentos de abdução (o membro superior se afasta do plano de simetria do corpo) e adução (o membro superior se aproxima ao plano de simetria) realizados no plano frontal (ver figs. 1-4 e 1-5 e plano B da fig 1-9).

3) Eixo vertical, determinado pela intersecção do plano sagital e do plano frontal:

  • Corresponde à terceira dimensão do espaço;  dirige os movimentos de flexão e de extensão realizados no plano horizontal, o braço em abdução de 90° (ver também fig. 1-8 e plano C da fig. 1-9).

O eixo longitudinal do úmero permite a rotação externa/interna do braço e do membro superior, de duas maneiras diferentes:

– a rotação voluntária (também denominada “rotação adjunta’) que utiliza o terceiro grau de liberdade e não é possível se não for em articulações de três eixos (as enartroses). Deve-se à contração dos músculos rotadores;

– a rotação automática (também denominada “rotação conjunta”) que aparece sem nenhuma ação voluntária nas articulações de dois eixos, ou nas articulações de três eixos quando funcionam como articulações de dois eixos. Mais adiante trataremos o paradoxo de CODMAN.

A posição de referência é definida como descrevemos a seguir:

O membro superior pende ao longo do corpo, verticalmente, de maneira que o eixo longitudinal do úmero coincide com o eixo vertical. Na posição de abdução a 90° o eixo longitudinal coincide com o eixo transversal. Na posição de flexão de 90°, coincide como o eixo anteroposterior. Portanto, o ombro é uma articulação com três eixos principais e três graus de liberdade; o eixo longitudinal do úmero pode coincidir com um dos dois eixos ou se situar em qualquer posição intermédia para permitir os movimentos de rotação do úmero.