Tratamento da dor pela cinesioterapia – II

Fisiologia da dor e terminologia IASP – atualizado em 25/06/2022

A dor está associada a uma resposta de stress neuroendócrino proporcional à sua intensidade. A resposta hormonal, que é consequência da dor, resulta da ativação do sistema nervoso simpático e de reflexos mediados pelo hipotálamo. A dor, quando não controlada, tem o potencial de afetar quase todas as funções do organismo.

Fisiopatologia da dor

Em um mecanismo típico, estímulos mecânicos, químicos ou térmicos são compreendidos por terminações nervosas de neurônios primários nociceptivos, através de receptores específicos. Tal estímulo promove abertura dos canais de Na+, que geram um potencial de ação. Se o estímulo é forte o suficiente para atingir o limiar de ação, os canais voltagem dependentes se abrem, promovendo o influxo de Na+ a partir do axônio.

Nos terminais nervosos (próximo a fenda sináptica), os canais de Ca2+ se abrem e transportam as vesículas contendo neurotransmissores (principalmente glutamato) para a membrana, liberando-os na fenda sináptica.

Uma vez liberados, neurotransmissores excitatórios, se ligam a receptores específicos que excitam os neurônios de projeção presentes na medula, cuja função é enviar a transmissão nervosa ao encéfalo.

Um estímulo inicial causa uma série de mudanças fisiológicas que iniciam a transmissão nervosa para a medula a partir de um neurônio sensorial nociceptivo periférico, comunicando-se enfim com o encéfalo.

Via ascendente da dor

Nos cornos dorsais, os neurônios primários formam sinapses com neurônios secundários e interneurônios localizados em várias lâminas do corno dorsal; os neurônios secundários cruzam a linha média antes de ascenderem para os núcleos supraespinhais. As fibras Aδ(delta) inervam as células da zona marginal e as fibras C inervam sobretudo as células da substância gelatinosa.

Os neurônios secundários com corpos celulares com origem nas lâminas I e II são específicas para os estímulos dolorosos de origem mecânica ou térmica e formam o trato neoespinotalâmico que transmite a informação para o córtex. Os neurônios secundários cujos corpos celulares se localizam na lâmina V são polimodais ou inespecíficos, transmitindo estímulos dolorosos de origem táctil, muscular ou visceral e também estímulos inócuos; formam o trato paleoespinotalâmico que envia a informação mais vaga para a formação reticular, a protuberância, o sistema límbico e o mesencéfalo. As qualidades afetivas aversivas da dor são percebidas depois do processamento dos sinais recebidos através do trato paleoespinotalâmico.

A dor resulta da ativação, lesão ou disfunção dos neurônios aferentes primários específicos (nociceptores) ou do sistema nervoso central (SNC). O estímulo doloroso no corpo é levado do nervo periférico até a medula espinhal, onde estas fibras fazem sinapse (contato) em um segundo neurônio localizado no corno posterior da medula. No caso do crânio, essas fibras fazem sinapse no núcleo do nervo trigêmio.

As informações ascendentes interligam-se com áreas do cérebro responsáveis pela memória e com
áreas que modulam os cornos dorsais através das vias descendentes.

A partir deste segundo neurônio, origina-se a via dolorosa conhecida como sistema espinotalâmico, o qual cruza (decussa) para o lado contralateral e ascende até o tálamo. Após o tálamo o estímulo se distribui para várias área do cérebro, chegando ao córtex; do tálamo ao córtex a dor já é consciente.

Transmissão da informação nociceptiva da medula espinal ao tálamo

O processamento central da dor, vai ocorrer em cinco vias ascendentes principais: tratos espinotalâmico, espinorreticular, espinomesencefálico, cervicotalâmico e espino-hipotalâmico.

A via do trato espinotalâmico recebe impulsos de neurônios nociceptores específicos (apenas fibras A delta e C), termossensíveis, e de amplo espectro dinâmico das lâminas I, V, VI e VII do corno dorsal. Em seguida, cruza a linha central da coluna espinal e ascendem até os núcleos talâmicos, onde o impulso elétrico provoca a sensação de dor (Lent, 2008; Kandel, 2014).

O trato espinorreticular possui os axônios dos neurônios de projeção das lâminas VII e VIII do corno dorsal sem cruzar a linha média, ascende da medula espinhal e termina na formação reticular e no tálamo.

O trato espinomesencefálico, por sua vez, projeta a partir das lâminas I e V, e possui projeção para a amígdala que contribui para o componente afetivo da dor.

O trato cervicotalâmico recebe sinal das lâminas III e IV do corno dorsal e ascende no tronco encefálico até chegar ao tálamo.

O trato espino-hipotalâmico, por sua vez, abriga os axônios dos neurônios presentes nas lâminas I, V e VIII do corno da medula, e regulam respostas neuroendócrinas e cardiovasculares nas síndromes dolorosas (Lent, 2008; Kandel, 2014).

O tálamo desempenha um papel muito importante na integração do impulso doloroso. A partir dele, neurônios de terceira ordem transmitem impulsos para o córtex cerebral, onde ocorre o processamento que resulta em consciência da dor.

Via Descendente ou de Supressão da Dor

Existem três mecanismos de supressão da dor: a inibição segmentar, o sistema opioide endógeno e o sistema inibitório descendente.

A teoria da inibição segmentar (teoria do portão) propõe que a transmissão dos estímulos através das sinapses entre as fibras Aδ e C e as células dos cornos dorsais da medula pode ser atenuada ou bloqueada. As fibras Aα e Aβ que transmitem estímulos inócuos, como o toque, estimulam interneurônios que inibem a transmissão sináptica. Este mecanismo explicaria porque o esfregar a área lesada reduz a dor. Também a ação da estimulação elétrica transcutânea dos nervos, conhecida pela sigla TENS, poderia ser explicada por este mecanismo.

Os opioides endógenos (encefalinas, endorfinas e dinorfina) podem inibir a dor ligando-se aos receptores opioides a nível da medula. São péptidos segregados do SNC em momentos de dor intensa, de stress ou de ambos.

O sistema inibitório descendente é outro dos mecanismos de modulação da dor. Uma das vias deste sistema tem origem na substância cinzenta periaqueductal no mesencéfalo, com sinapses no núcleo magno da rafe, de onde se projetam fibras para a medula espinal, cujo neurotransmissor é a serotonina. A outra tem origem no núcleo ceruleus na protuberância que tem projeções para a medula espinal, cujo neurotransmissor é a noradrenalina. A ativação do sistema descendente da dor inibe a transmissão dos estímulos dolorosos nas sinapses no corno dorsal da medula pela ação dos opioides endógenos.

É o principal mecanismo que o sistema nervoso utiliza para reduzir a dor. Descendo do córtex cerebral, o sistema descendente vai recebendo várias vias (aferências), dentre as quais as mais conhecidas são a substância cinzenta periaquedutal e a medula rostroventromedial. Para reduzir a dor os principais transmissores do sistema descendente, são a serotonina e noradrenalina, os quais em seguida induzem a liberação de opioides endógenos (substâncias estas similares a morfina) no corno posterior da medula, levando ao efeito  analgésico. Este mecanismo explica em parte a inter-relação entre dor e depressão uma vez que utilizam alguns transmissores em comum.

Aumentar atividade analgésica do sistema descendente é um dos pilares na terapia da dor, uma vez que várias síndromes dolorosas cursam com hipoatividade no sistema descendente. Na fibromialgia por exemplo, acredita-se que o sistema descendente esteja hipoativo, levando a um aumento na percepção da sensação dolorosa.

Atualmente sabe-se que o sistema descendente pode ser ativado de múltiplas formas incluindo mecanismo farmacológico como os antidepressivos amitriptilina e duloxetina, e, mecanismos não farmacológicos como acupuntura, estimulação elétrica transcutânea, estimulação magnética transcraniana, etc. Um conjunto de atividades comportamentais também podem ser utilizados para aumentar a atividade do sistema descendente como exercício físico regular, uma boa noite de sono, exercícios de relaxamento e qualquer mudança que melhore a qualidade de vida.

Há uma série de eventos e mediadores químicos que tornam muito complexo esse processo. Embora relevante, o estudo específico da fisiologia da dor ultrapassa o objetivo dessa postagem, que é o estudo da dor para seu correto manejo clínico. Quem desejar se aprofundar na fisiopatologia da dor, sugiro a leitura dessa página abaixo.

Reflexo de retirada e reflexo extensor cruzado

A medula espinhal não é apenas um caminho para conexões motoras e sensoriais entre o sistema nervoso periférico e o encéfalo, é também responsável pela coordenação de reflexos sensoriais-motores. Os sinais sensoriais entram na medula (exclusivamente via raízes dorsais) onde fazem sinapses com neurônios motores anteriores ou com interneurônios. Os neurônios motores anteriores deixam a medula via raízes ventrais e inervam diretamente as fibras musculares esqueléticas.

Os interneurônios ficam confinados ao sistema nervoso central e fazem conexões tanto com neurônios sensoriais quanto com neurônios motores.

Na maioria das vezes os sinais sensoriais são transmitidos primeiramente para os interneurônios, onde são adequadamente processados, antes de convergirem sobre os neurônios motores anteriores para o controle da função muscular. Portanto, os sinais sensoriais que chegam à medula podem provocar uma resposta motora direta, ao fazerem sinapse com neurônios motores anteriores (reflexo monossináptico) ou indireta, ao fazerem sinapse com os interneurônios.

Dentre os reflexos medulares está o reflexo flexor ou de retirada. Este reflexo é caracterizado pela retirada de um membro do corpo frente a estímulos como dor, picada e calor. Um exemplo é quando encostamos a mão no fogo: não precisamos ver ou mesmo sentir a dor para que a resposta reflexa seja desencadeada e nossa mão seja retirada (reflexo flexor ou de retirada). Isso ocorre graças à integração, na medula, da ativação dos neurônios sensitivos com os neurônios motores e, consequente excitação dos músculos flexores e recíproco relaxamento ou inibição dos músculos extensores.

A flexão de um membro acompanhada da reação contralateral do membro oposto é denominada reflexo extensor cruzado. No entanto, para que este reflexo seja observado o estímulo tem que ser suficientemente forte para atingir os interneurônios, com limiar de ativação mais alto, que fazem parte do circuito neuronal do reflexo extensor cruzado. A necessidade do envolvimento dos músculos contralaterais neste tipo de reflexo tem a função de dar suporte postural durante a retirada do membro afetado frente ao estímulo da dor.

Terminologia atualizada da Associação Internacional de Estudo da Dor (IASP)

O trabalho da Força-Tarefa em Taxonomia da época de 1979 a 1994 foi continuado pelo Comitê de Taxonomia que atualizou o termo “dor” e a classificação das síndromes de dor. Todos os termos foram cuidadosamente revisados e sua utilidade avaliada em relação aos novos conhecimentos sobre os aspectos clínicos e científicos básicos da dor. Conforme declarado em publicações anteriores da taxonomia IASP, não vemos esta lista de termos como imutável. À medida que aprendemos mais sobre a dor, precisaremos atualizar a terminologia.

DOR

Uma experiência sensorial e emocional desagradável associada ou semelhante a uma lesão tecidual real ou potencial.

Seis pontos-chave e etimologia:

1) A dor é sempre uma experiência pessoal que é influenciada em graus variados por fatores biológicos, psicológicos e sociais.

2) Dor e nocicepção são fenômenos diferentes. A dor não pode ser inferida apenas pela atividade nos neurônios sensoriais.

3) Através de suas experiências de vida, os indivíduos aprendem o conceito de dor.

4) O relato de uma pessoa de uma experiência como dor deve ser respeitado.

5) Embora a dor geralmente tenha um papel adaptativo, ela pode ter efeitos adversos na função e no bem-estar social e psicológico.

6) A descrição verbal é apenas um dos vários comportamentos para expressar dor; a incapacidade de se comunicar não nega a possibilidade de um animal humano ou não humano sentir dor.

Etimologia: Inglês médio, do anglo-francês peine (dor, sofrimento), do latim poena (penalidade, punição), por sua vez do grego poine (pagamento, penalidade, recompensa).

Uma mudança central na nova definição, em comparação com a versão de 1979, está substituindo a terminologia que dependia da capacidade de uma pessoa de descrever a experiência para se qualificar como dor. A antiga definição dizia: “Uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a dano tecidual real ou potencial, ou descrita em termos de tal dano”. Essa redação foi interpretada como excluindo bebês, idosos e outros – até mesmo animais – que não conseguiam articular verbalmente sua dor, disse o Dr. Jeffrey Mogil, diretor do Alan Edwards Center for Research on Pain, McGill University e membro da força-tarefa.

ALODINIA

Dor devido a um estímulo que normalmente não provocaria dor.

Nota: O estímulo leva a uma resposta inesperadamente dolorosa. Este é um termo clínico que não implica um mecanismo. A alodinia pode ser observada após diferentes tipos de estímulos somatossensoriais aplicados a muitos tecidos diferentes.

O termo alodínia foi originalmente introduzido para separar hiperalgesia e hiperestesia, as condições observadas em pacientes com lesões do sistema nervoso em que toque, pressão leve ou frio ou calor moderados evocam dor quando aplicados em pele aparentemente normal. “Allo” significa "outro" em grego e é um prefixo comum para condições médicas que divergem do esperado. “Odynia” é derivado da palavra grega "odune" ou "odyne", que é usada em "pleurodinia" e "coccidínia" e é semelhante em significado à raiz da qual derivamos palavras com -algia ou -algesia nelas. Alodinia foi sugerida após discussões com o professor Paul Potter, do Departamento de História da Medicina e Ciência da Universidade de Western Ontario.

ANESTESIA DOLOROSA
Dor em uma área ou região que esta anestesiada anestésica.

CAUSALGIA
Síndrome de dor em queimação sustentada, alodinia e hiperpatia após uma lesão nervosa traumática, muitas vezes combinada com disfunção vasomotora e sudomotora e alterações tróficas posteriores.

DISESTESIA

Uma sensação anormal desagradável, espontânea ou evocada.

Nota: Comparar com dor e parestesia. Casos especiais de disestesia incluem hiperalgesia e alodinia. Uma disestesia deve ser sempre desagradável e uma parestesia não deve ser desagradável, embora se reconheça que o limítrofe pode apresentar algumas dificuldades na hora de decidir se uma sensação é agradável ou desagradável. Deve-se sempre especificar se as sensações são espontâneas ou evocadas.

HIPERALGESIA

Aumento da dor a partir de um estímulo que normalmente provoca dor.

Nota: A hiperalgesia reflete o aumento da dor na estimulação supralimiar(acima do limite a partir do qual ocorre dor). Este é um termo clínico que não implica um mecanismo. Para a dor evocada por estímulos que geralmente não são dolorosos, o termo alodinia é preferido, enquanto a hiperalgesia é mais apropriada para casos com resposta aumentada em um limiar normal ou em um limiar aumentado, por exemplo, em pacientes com neuropatia. Também deve ser reconhecido que na alodinia o estímulo e a resposta estão em modos diferentes, enquanto na hiperalgesia eles estão no mesmo modo. As evidências atuais sugerem que a hiperalgesia é uma consequência da perturbação do sistema nociceptivo com sensibilização periférica ou central, ou ambas, mas é importante distinguir entre os fenômenos clínicos, que essa definição enfatiza, e a interpretação, que pode mudar à medida que o conhecimento avança . A hiperalgesia pode ser observada após diferentes tipos de estimulação somatossensorial aplicada a diferentes tecidos.

HIPERESTESIA

Aumento da sensibilidade à estimulação, excluindo os sentidos especiais.

Nota: O estímulo e o local devem ser especificados. A hiperestesia pode se referir a vários modos de sensibilidade cutânea, incluindo toque e sensação térmica sem dor, bem como à dor. A palavra é usada para indicar tanto um limiar diminuído a qualquer estímulo quanto uma resposta aumentada a estímulos que são normalmente reconhecidos.

Alodinia é sugerida para dor após estimulação que normalmente não é dolorosa. A hiperestesia inclui tanto alodinia quanto hiperalgesia, mas os termos mais específicos devem ser usados onde quer que sejam aplicáveis.

HIPERPATIA

Síndrome dolorosa caracterizada por uma reação anormalmente dolorosa a um estímulo, especialmente um estímulo repetitivo, bem como um limiar aumentado.

Nota: Pode ocorrer com alodinia, hiperestesia, hiperalgesia ou disestesia. Falha na identificação e localização do estímulo, atraso, sensação de irradiação e sensação posterior podem estar presentes, e a dor é frequentemente de caráter explosivo.

HIPOALGESIA

Dor diminuída em resposta a um estímulo normalmente doloroso.

Nota: A hipoalgesia era anteriormente definida como sensibilidade diminuída à estimulação nociva, tornando-se um caso particular de hipoestesia. No entanto, agora se refere apenas à ocorrência de relativamente menos dor em resposta à estimulação que produziria dor. A hipoestesia abrange o caso de diminuição da sensibilidade à estimulação que normalmente é dolorosa.

HIPOESTESIA

Diminuição da sensibilidade à estimulação, excluindo os sentidos especiais.

Nota: Estimulação e localização para ser especificada.

TRATAMENTO INTERDISCIPLINAR

Tratamento multimodal fornecido por uma equipe multidisciplinar, colaborando na avaliação e tratamento usando um modelo e objetivos biopsicossociais compartilhados. Por exemplo: a prescrição de um antidepressivo por um médico juntamente com o tratamento de exercícios por um fisioterapeuta e o tratamento cognitivo-comportamental por um psicólogo, todos trabalhando em conjunto com reuniões regulares de equipe (presencial ou online), acordo sobre diagnóstico, objetivos terapêuticos e planos para tratamento e revisão.

TRATAMENTO MULTIDISCIPLINAR

Tratamento multimodal fornecido por profissionais de diferentes disciplinas. Por exemplo: a prescrição de um antidepressivo por um médico juntamente com o tratamento de exercícios por um fisioterapeuta e o tratamento cognitivo-comportamental por um psicólogo, todas as profissões trabalhando separadamente com seu próprio objetivo terapêutico para o paciente e não necessariamente se comunicando.

TRATAMENTO MULTIMODAL

O uso simultâneo de intervenções terapêuticas separadas com diferentes mecanismos de ação dentro de uma disciplina visava diferentes mecanismos de dor. Por exemplo: o uso de pregabalina e opioides para controle da dor por um médico; o uso de AINE e órtese para controle da dor por um médico.

NEURALGIA

Dor na distribuição de um nervo ou nervos.

Nota: O uso comum, especialmente na Europa, muitas vezes implica uma qualidade paroxística, mas a neuralgia não deve ser reservada para dores paroxísticas.

NEURITE

Inflamação de um nervo ou nervos.

Nota: Não deve ser usado a menos que a inflamação esteja presente.

DOR NEUROPÁTICA

Dor causada por uma lesão ou doença do sistema nervoso somatossensorial.

Nota: A dor neuropática é uma descrição clínica (e não um diagnóstico) que requer uma lesão demonstrável ou uma doença que satisfaça os critérios diagnósticos neurológicos estabelecidos. O termo lesão é comumente usado quando investigações diagnósticas (por exemplo, imagem, neurofisiologia, biópsias, exames laboratoriais) revelam uma anormalidade ou quando houve trauma óbvio. O termo doença é comumente usado quando a causa subjacente da lesão é conhecida (por exemplo, acidente vascular cerebral, vasculite, diabetes mellitus, anormalidade genética).

Somatossensorial refere-se a informações sobre o corpo em si, incluindo órgãos viscerais, em vez de informações sobre o mundo externo (por exemplo, visão, audição ou olfato). A presença de sintomas ou sinais (por exemplo, dor evocada pelo toque) por si só não justifica o uso do termo neuropático. Algumas entidades de doença, como a neuralgia do trigêmeo, são atualmente definidas por sua apresentação clínica e não por testes diagnósticos objetivos. Outros diagnósticos, como neuralgia pós-herpética, normalmente são baseados na história. É comum ao investigar a dor neuropática que os testes diagnósticos possam produzir dados inconclusivos ou mesmo inconsistentes. Nesses casos, o julgamento clínico é necessário para reduzir a totalidade dos achados de um paciente em um diagnóstico ou grupo conciso de diagnósticos.

DOR NEUROPÁTICA CENTRAL

Dor causada por uma lesão ou doença do sistema nervoso somatossensorial central. Veja nota de dor neuropática.

DOR NEUROPÁTICA PERIFÉRICA

Dor causada por uma lesão ou doença do sistema nervoso somatossensorial periférico. Veja nota de dor neuropática.

NEUROPATIA

Um distúrbio da função ou alteração patológica do nervo. 1) Ocorrendo em um nervo, mononeuropatia; 2) ocorrendo em vários nervos, mononeuropatia múltipla; 3) ocorrendo de forma difusa e bilateral, polineuropatia.

Nota: A neurite é um caso especial de neuropatia e agora está reservada para processos inflamatórios que afetam os nervos.

NOCICEPÇÃO

O processo neural de codificação de estímulos nocivos.

Nota: As consequências da codificação podem ser autonômicas (por exemplo, pressão arterial elevada) ou comportamentais (reflexo de retirada motora ou comportamento nocifensivo mais complexo). A sensação de dor não está necessariamente implícita.

NEURÔNIO NOCICEPTIVO

Um neurônio central ou periférico do sistema nervoso somatossensorial que é capaz de codificar estímulos nocivos.

DOR NOCICEPTIVA

Dor que surge de dano real ou ameaçado ao tecido não neural e é devido à ativação de nociceptores.

Nota: Este termo é projetado para contrastar com a dor neuropática. O termo é usado para descrever a dor que ocorre com um sistema nervoso somatossensorial funcionando normalmente para contrastar com a função anormal observada na dor neuropática.

ESTÍMULO NOCICEPTIVO

Um evento de dano real ou potencial ao tecido transduzido e codificado por nociceptores.

NOCICEPTOR

Receptor sensorial de alto limiar do sistema nervoso somatossensorial periférico que é capaz de transduzir e codificar estímulos nocivos.

DOR NOCIPLÁSTICA

Dor que surge da nocicepção alterada, apesar de não haver evidência clara de dano tecidual real ou ameaçado, causando a ativação de nociceptores periféricos ou evidência de doença ou lesão do sistema somatossensorial que causa a dor.

Nota: Os pacientes podem ter uma combinação de dor nociceptiva e nociplástica

ESTÍMULO NOCIVO

Um estímulo que danifica ou ameaça danificar os tecidos normais.

O LIMIAR DE DOR

A intensidade mínima de um estímulo que é percebido como doloroso.

Nota: Tradicionalmente, o limiar tem sido frequentemente definido, como o definimos anteriormente, como a menor intensidade de estímulo na qual um sujeito percebe a dor. Devidamente definido, o limiar é realmente a experiência do paciente, enquanto a intensidade medida é um evento externo. Tem sido de uso comum para a maioria dos pesquisadores da dor definir o limiar em termos do estímulo, e isso deve ser evitado. No entanto, o estímulo limiar pode ser reconhecido como tal e medido. Na psicofísica, os limiares são definidos como o nível em que 50% dos estímulos são reconhecidos. Nesse caso, o limiar de dor seria o nível em que 50% dos estímulos seriam reconhecidos como dolorosos. O estímulo não é dor (q.v.) e não pode ser uma medida de dor.

NÍVEL DE TOLERÂNCIA À DOR

A intensidade máxima de um estímulo produtor de dor que um sujeito está disposto a aceitar em uma determinada situação.

Nota: Tal como acontece com o limiar de dor, o nível de tolerância à dor é a experiência subjetiva do indivíduo. Os estímulos que normalmente são medidos em relação à sua produção são os estímulos do nível de tolerância à dor e não o nível em si. Assim, o mesmo argumento se aplica ao nível de tolerância à dor quanto ao limiar de dor, e não é definido em termos de estimulação externa como tal.

PARESTESIA

Uma sensação anormal, espontânea ou evocada.

Nota: Comparar com disestesia. Após muita discussão, concordou-se em recomendar que a parestesia seja usada para descrever uma sensação anormal que não seja desagradável, enquanto a disestesia seja usada preferencialmente para uma sensação anormal considerada desagradável.

O uso de um termo (parestesia) para indicar sensações espontâneas e o outro para se referir a sensações evocadas não é indicado. Há um sentido em que, como a parestesia se refere a sensações anormais em geral, pode incluir disestesia, mas o inverso não é verdadeiro. A disestesia não inclui todas as sensações anormais, mas apenas aquelas que são desagradáveis.

SENSIBILIZAÇÃO

Aumento da capacidade de resposta dos neurônios nociceptivos à sua entrada normal e/ou recrutamento de uma resposta a entradas normalmente abaixo do limiar de ativação.

Nota: A sensibilização pode incluir uma queda no limiar e um aumento na resposta supralimiar. Descargas espontâneas e aumentos no tamanho do campo receptivo também podem ocorrer. Este é um termo neurofisiológico que só pode ser aplicado quando tanto a entrada quanto a saída do sistema neural em estudo são conhecidas, por exemplo, controlando o estímulo e medindo o evento neural. Clinicamente, a sensibilização só pode ser inferida indiretamente a partir de fenômenos como hiperalgesia ou alodinia.

SENSIBILIZAÇÃO CENTRAL

Aumento da responsividade dos neurônios nociceptivos no sistema nervoso central à sua entrada aferente normal ou subliminar.

Nota: Veja a nota para sensibilização e neurônio nociceptivo acima. Isso pode incluir aumento da capacidade de resposta devido à disfunção dos sistemas endógenos de controle da dor. Os neurônios periféricos estão funcionando normalmente; as mudanças na função ocorrem apenas nos neurônios centrais.

SENSIBILIZAÇÃO PERIFÉRICA

Aumento da capacidade de resposta e redução do limiar de neurônios nociceptivos na periferia à estimulação de seus campos receptivos.

Nota: Veja a nota para sensibilização acima.

TRATAMENTO UNIMODAL

Intervenção terapêutica única direcionada a um mecanismo específico de dor ou diagnóstico de dor. Por exemplo: a aplicação de tratamento de exercícios por um fisioterapeuta.

Tratamento da dor pela cinesioterapia – I

Neurofisiologia e neurociência da dor – Atualizado em 24/06/2022

Olá colegas e futuros colegas! Inicio aqui uma série sobre o estudo da dor, educação em dor e como tratar a dor através da cinesioterapia. É muito importante que você entenda os conceitos atuais sobre dor e saiba diferenciar que tipo de dor está sendo referida pelo paciente, compreendendo melhor o que acontece e o que fazer para ajudar.

O tema dor é abordado brevemente ao estudarmos sobre as patologias em geral. No entanto, estudar separadamente e dar ao estudo da dor a sua devida importância é vital para sua efetiva compreensão, sendo também muito produtivo na sua prática clínica. Busquei o que há de melhor no assunto, inclusive traduzi e disponibilizarei a terminologia da IASP.

Em um estudo realizado com a aplicação de questionários para pacientes e profissionais de saúde, chegou-se à conclusão que os profissionais subestimam a capacidade dos pacientes entenderem da sua dor, e que não deveriam subestimar. Esse estudo constatou que, embora tanto profissionais de saúde quanto pacientes tenham um conhecimento relativamente pobre sobre a neurofisiologia da dor, informá-los melhora significativamente o conhecimento em ambos os grupos.

Informações atuais e precisas sobre dor não formam a base teórica do tratamento e não são apresentadas aos pacientes como parte de um programa de gestão da dor crônica. A falta de informações é uma barreira primária para a compreensão da dor, tanto para clínicos quanto para leigos. Essa falta de informações pode inclusive limitar a eficácia de qualquer intervenção terapêutica!

É de enorme importância compreender a neuroplasticidade, a memória de dor, o início de cronicidade, os mecanismos que explicam comportamentos de dor e as consequências a longo prazo da dor crônica no encéfalo. É muito produtivo utilizar a estratégia biopsicossocial para avaliação da dor e da incapacidade, uma vez que esta interfere na natureza multidimensional da dor em domínios relevantes para a prática. Com todo esse saber devidamente revisitado, podemos enfim utilizar os conceitos de educação em dor e usar uma perspectiva centrada na pessoa para formular estratégias de intervenção colaborativas.

A existência da dor

O que conhecemos por dor é a resposta do sistema nervoso central a um estímulo neural. Não é obrigatoriamente algo que começa onde existe uma lesão, como uma dor por hérnia de disco ou cálculo renal. Pode existir dor e não existir lesão tecidual. E pode haver lesão tecidual e não existir dor, principalmente quando a lesão não causa perturbação biomecânica ou funcional. Para que exista dor, é necessário ocorrer um mecanismo que envolve detecção, alarme e resposta.

  1. Nocicepção (detecção)
  2. Sensibilização (alarme)
  3. Dor (resposta)

Quando houver perturbação desse mecanismo poderemos ter uma resposta dolorosa exacerbada, chamada de hiperalgesia. Poderemos ter também dor a estímulos que não são dolorosos, como sentir dor ao receber o vento do ar condicionado, o que é chamado de alodinia.

Algumas pessoas não sentem dor, como nos casos em que a insensibilidade à dor é congênita (genética), tornando essas pessoas insensíveis a cortes, fraturas ou queimaduras. Isso é um problema sério e muitos desses indivíduos não conseguem atingir a vida adulta e, quando conseguem, a presença de sequelas é praticamente inevitável. Sentir dor é fisiologicamente necessário em algumas situações, apesar do incômodo causado.

1) NOCICEPÇÃO(detecção)

É importante não confundir nocicepção com dor nociceptiva. Nocicepção é o processo neural de identificação e codificação de estímulos nocivos ou potencialmente perigosos ao corpo. Não há relação direta com a existência de dano tecidual. A nocicepção é apenas a detecção do estímulo que provoca uma resposta do sistema nervoso central, que decidirá se haverá dor ou não.

O primeiro processo da nocicepção é a decodificação de sensações mecânicas, térmicas ou químicas em impulsos elétricos pelos terminais nervosos especializados denominados nociceptores.

Os nociceptores são terminações nervosas livres dos neurônios de primeira ordem, cuja função é preservar a homeostasia tecidual, assinalando uma injúria potencial ou real.

Os neurônios de primeira ordem são classificados em 3 grupos segundo seu diâmetro, seu grau de mielinização e sua velocidade de condução: Fibras Aβ(beta), Fibras Aδ(delta) e Fibras C.

Nem todo estímulo é doloroso

Estímulos de pressão ou térmicos leves são identificados pelos receptores de pressão e temperatura da pele e não ativam os nociceptores, que possuem um limiar de ativação mais alto. Esse limiar de dor é a intensidade mínima a partir da qual o estímulo é considerado danoso.

Uma vez que o estímulo térmico, químico ou mecânico ultrapasse o limiar de dor, é iniciado o estímulo nociceptivo que inicia diversas alterações neuroendócrinas, promovendo um estado de hiperexcitabilidade do sistema nervoso periférico e central.

As 4 etapas da nocicepção

A nocicepção inicia-se com a transdução(1), que é a forma como o sistema nervoso codifica os estímulos que são captados pelos sensores e, via potencial de ação, realiza a transmissão(2) dessas informações de ameaça através das vias espinotalâmica e espinoreticulotalâmica que, por sua vez, se conectam com diversas áreas do cérebro e modulam(3) o estímulo, aumentando ou reduzindo sua intensidade. Ao chegar ao cérebro, há a percepção(4) sobre a real ameaça desse estímulo, sendo produzida a resposta de dor caso a ameaça seja percebida como efetiva.

A nocicepção pode ser considerada como uma cadeia de três neurônios, com o neurônio de primeira ordem originado na periferia e projetando-se para a medula espinhal; o neurônio de segunda ordem ascendendo pela medula espinhal e o neurônio de terceira ordem projeta-se para o córtex cerebral.

2) SENSIBILIZAÇÃO(alarme)

É o aumento da capacidade de resposta dos neurônios nociceptivos a entradas normalmente supraliminares(acima do limiar de percepção da dor). Quanto maior o limiar de dor, mais forte deverá ser o estímulo para ativar os nociceptores. Quanto menor o limiar de dor, mais fraco poderá ser o estímulo para ativar os nociceptores.

Na sensibilização ocorre uma atividade neuronal aumentada, que ultrapassa o limiar da dor. A sensibilização pode ocorrer tanto no sistema nervoso central como no periférico.

Sensibilização periférica

Clinicamente, identificamos a sensibilização periférica nos sinais clássicos de inflamação local, como numa entorse de joelho ou tornozelo, onde evidenciamos alguns eventos típicos da sensibilização periférica.

Inicialmente ocorrem edema, hiperemia e dor ao toque em razão da sensibilização nociceptiva, que é a sensibilização dos nociceptores periféricos.

A dor ao toque ocorre também na região que circunda a lesão mas que não está lesionada, por ativação dos nociceptores silentes.

Podemos ter também sensibilidade aumentada a estímulos no local da lesão, como dor ao toque leve, chamada de hiperalgesia.

O aumento de sensibilidade local está diretamente relacionado com a redução do limiar de dor, onde estímulos de menor intensidade passam a estimular o sistema nervoso e causar dor.

Ocorre num segundo momento a inflamação neurogênica, que é o aumento do processo inflamatório após a inflamação inicial por liberação de neurotransmissores, via nervo periférico.

Há também aumento da atividade neuronal simpática, por conexão do sistema nervoso simpático no local da lesão, liberando substâncias sensibilizantes.

Quando houver lesão de nervos periféricos haverá descarga ectópica, que é a dor tipo choque provocada por lesão na bainha de mielina do nervo periférico.

Sensibilização central

Ao se tratar de sistema nervoso central temos maior probabilidade de resposta exacerbada. É aqui que tudo acontece, portanto as respostas têm maior potencial.

Na sensibilização central podemos ter a ocorrência do mecanismo de somação temporal(wind up), onde ocorre resposta de dor aos estímulos acumulados e repetitivos de intensidade semelhante recebidos pelos pelos neurônios nociceptivos na medula, estímulos esses que normalmente não causariam dor. É o que ocorre naquela dor crônica persistente que, sem motivo aparente, passa a incomodar mais, a dor piora com a realização repetida do movimento, o que não significa que a lesão está piorando.

Podemos ter também um aumento dos campos receptivos, que é a ativação de mais neurônios para participar da sensibilização, amplificando a área de dor.

A desinibição é a perda da capacidade de ativação do sistema modulatório inibitório descendente, com liberação de neurotransmissores excitatórios e desequilíbrio de atividade a favor desses neurotransmissores e alterações de segundo mensageiro, causando redução da produção de neurotransmissores inibitórios da dor. Portanto ocorrem modificações corticais, ou seja, mudanças na estrutura e função do cérebro.

Identificando a sensibilização central

A dor pode se apresentar de forma localizada, regional ou generalizada. Geralmente uma dor localizada nos sugere que há pouca sensibilização central e uma dor regional sugere maior probabilidade de sensibilização central. Já a dor generalizada é um estágio onde podemos ter uma sensibilização central importante. Nesse caso a dor é forte e difusa.

Clinicamente identificamos a sensibilização central por:

1. sensibilidade excessiva: barulho, cheiro, luz e a temperatura podem produzir ou aumentar a dor.

2. desproporção entre exame subjetivo e objetivo. A relação de causa e efeito é incoerente.

3. distribuição irregular da dor: A dor ocorre de forma bilateral, ou muda de região.

4. intolerância ao movimento sem inflamação ou lesão que o impeça.

5. hiperalgesia e alodínia

6. redução do limiar e da tolerância à dor

Sensibilização x habituação

Outro conceito muito importante é o de habituação, que é o oposto de sensibilização. A sensibilização é o excesso da atividade neuronal e a habituação é a acomodação desse excesso de atividade neuronal. Com exercícios físicos estimulamos a habituação, fazendo com que a atividade indicativa de perigo dos neurotransmissores seja reduzida, desligando os alarmes do sistema nervoso.

3 – DOR (resposta)

Dor é a resposta que ocorre após a sensibilização alertar o sistema nervoso central que houve um estímulo captado pelos nociceptores.

De acordo com o pesquisador Moseley, dor é uma resposta perceptiva de proteção que pode ser evocada por informações sensoriais, psicológicas e contextuais que sugiram ao cérebro que o corpo está em perigo.

Seis pontos-chave e etimologia

Segundo a IASP, a dor é uma experiência sensorial e emocional desagradável associada ou semelhante a uma lesão tecidual real ou potencial.

1) A dor é sempre uma experiência pessoal que é influenciada em graus variados por fatores biológicos, psicológicos e sociais.

2) Dor e nocicepção são fenômenos diferentes. A dor não pode ser inferida apenas pela atividade nos neurônios sensoriais.

3) Através de suas experiências de vida, os indivíduos aprendem o conceito de dor.

4) O relato de uma pessoa de uma experiência como dor deve ser respeitado.

5) Embora a dor geralmente tenha um papel adaptativo, ela pode ter efeitos adversos na função e no bem-estar social e psicológico.

6) A descrição verbal é apenas um dos vários comportamentos para expressar dor; a incapacidade de se comunicar não nega a possibilidade de um animal humano ou não humano sentir dor.

Dor e lesão: uma relação instável

Quatro tipos de relações possíveis entre a dor e a lesão, que ilustram o amplo espectro do fenômeno dor:

1. Lesão sem dor – a incapacidade de sentir dor, apesar da lesão (insensibilidade congênita à dor ou analgesia congênita).

2. Dor sem lesão – dor espontânea na ausência de estimulação nociva (fibromialgia).

3. Persistência da dor após a cura da lesão (Síndrome Complexa de Dor Regional).

4. Dor desproporcional à gravidade da lesão. (RONALD MELZACK E PATRICK WALL. O DESAFIO DA DOR. Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1987).

Classificações da dor

De acordo com sua origem a dor pode ser classificada como dor nociceptiva (somática ou visceral); dor neuropática(periférica ou central) ou dor nociplástica (antigamente chamada de psicogênica).

Dor nociceptiva

A dor nociceptiva é o tipo de dor que vem de danos nos tecidos, como uma contusão, um corte ou uma queimadura. A dor nociceptiva é iniciada com a estimulação de terminações nervosas livres, que são as terminações sensoriais mais simples de um nervo aferente e estão distribuídas por todos os tecidos corporais, sobretudo na pele.

As terminações nervosas livres são responsáveis pela detecção de estímulos térmicos de calor e frio (termoceptores), estímulos mecânicos de toque, pressão e estiramento (mecanoceptores) e finalmente a dor (nociceptores).

Os nociceptores são neurônios sensoriais encontrados por todo o corpo humano capazes de enviar sinais que causam a percepção da dor por meio de axônios, que se estendem na direção do sistema nervoso periférico em resposta a um estímulo potencial ou real de dano tecidual. Seus corpos celulares estão localizados na cadeia ganglionar trigeminal (face) e na raiz ganglionar dorsal (restante do corpo humano).

O disparo dos nociceptores na transmissão elétrica se dá quando os limiares dos estímulos químicos (íons potássio, bradicinina, serotonina, histamina e enzimas proteolíticas), mecânicos ou térmicos são superados. Alguns nociceptores são também chamados de polimodais por responderem a mais de um tipo de estímulo.

Podemos classificar os axônios dos nociceptores em dois grupos:

Fibras “fibras Aδ” (A Delta): são mielinizadas, compõem o trato neoespinotalâmico, são capazes de conduzir um potencial de ação da ordem de 5 a 30m/s em direção ao sistema nervoso central, caracterizando a dor aguda e bem localizada

Fibras axonais “tipo C”: são amielínicas, compõem o trato paleoespinotalamico, são mais lentas (0,5 a 2m/s), caracterizando a dor mal localizada e contínua.

A dor nociceptiva origina-se em duas fases. A primeira fase é mediada pelas fibras de rápida condução, fibras A Delta (dor aguda, extrema), e a segunda fase pelas fibras de condução lenta do tipo C (dor prolongada e menos intensa).

As sensações dolorosas agudas, assim como as sensações térmicas e táteis convergem para o tálamo, uma rede de interpretação sensitiva da dor. Alguns dos núcleos do tálamo emitem projeções ao córtex cerebral, tornando possível a consciência da sensação dolorosa.

Dor neuropática

A dor neuropática acomete 9% a 10% da população em geral e pode ser classificada em 2 grupos: 1)dor crônica com características neuropáticas e 2) dor neuropática associada a condições específicas.

O desenvolvimento de ferramentas de triagem simples utilizando questionários (DN4, escala de dor de Leeds, LANSS, entre outros) ajudou a estimar que a dor neuropática afeta por volta de 7% a 10% da população, sendo mais comum em mulheres e em pessoas com mais de 50 anos. A dor neuropática pode estar associada a sinais sensoriais anormais clinicamente caracterizados por:

Dor espontânea: contínuo (frequentemente relatada como queimação contínua) ou paroxismos (espasmo agudo ou convulsão);

Dor evocada: em alodínia (estímulos sensoriais que normalmente não provocam dor) ou hiperalgesia (aumento excessivo do estímulo doloroso).

Em alguns pacientes, a lesão nervosa desencadeia alterações nos neurônios nociceptivos que se tornam anormalmente sensíveis e desenvolvem atividade espontânea patológica. Esse fenômeno pode levar a dores espontâneas, dor aguda, assim como hiperalgesia ao calor ou frio.

Entre as dores neuropáticas associadas a condições específicas, as mais comuns são a neuropatia diabética; a neuralgia pós-herpética; a neuralgia do trigêmeo; a radiculopatia cervical, a radiculopatia lombar e as polineuropatias medicamentosas e infecciosas.

Dor nociplástica

A dor nociplástica surge da nocicepção alterada, como se as vias nociceptivas sofressem modificações que as sensibilizassem e as modificassem e a dor acontecesse de modo espontâneo e independente da presença de lesão tecidual, causando a ativação de nociceptores periféricos.

Um dos fatores para sua ocorrência é o estresse emocional e a depressão. É muito comum também que a dor nociplástica venha acompanhada por fadiga e sono não reparador. Seja ela do tipo nociplástica isolada, como ocorre na fibromialgia ou cefaleia tensional, ou seja ela do tipo nociplástica mista, como na lombalgia crônica, o manejo da dor crônica nociplástica não pode ser realizado apenas por uso de medicamentos. Eles poderão ser necessários, mas é fundamental que o paciente tenha apoio psicológico por meio de uma equipe de saúde, que tenha suporte familiar e que também participe ativamente de programas que contribuam para mudanças de estilo de vida e manejo do estresse emocional.

Quando há mais de um tipo de mecanismo pode estar presente, devemos verificar se há predomínio.

Dor aguda ou dor crônica?

A dor pode também ser classificada pelo início de sua ocorrência, sendo dor aguda até 3 meses e dor crônica há mais que 3 meses.

A dor crônica pode ser classificada como primária ou secundária e possui algumas outras subdivisões, como dor oncológica ou dor pós-traumática. De acordo com a OMS, apenas um em cada quatro pacientes com dor crônica recebem tratamento adequado e mais da metade dos pacientes com lesões neurológicas desenvolvem dor crônica.

CEPERJ – Assembleia Legislativa MA – 2022 – Questão 40

40. O Sinal de Piedallu tem como objetivo avaliar a restrição da mobilidade da articulação sacroilíaca. Este deverá identificar a disfunção S1 pela:


(A) EIPS do lado com restrição ocupa uma posição superior àquela do lado normal.

(B) EIPS do lado com restrição ocupa uma posição inferior àquela do lado normal.

(C) EIPS do lado oposto a lesão ocupa uma posição inferior àquela do lado acometido.

(D) EIPS estão igualadas.

Vou ficar devendo sobre acurácia, especificidade e sensibilidade desse teste pessoal. Nunca vi nem comi, só ouvi falar agora mesmo. Que coisa não, uma prova até aqui extremamente fácil e cavam um teste sei lá de onde…. e a resposta ficou um pouco confusa de entender.

O teste de Piedallu tem a finalidade de avaliar hipomobilidade da articulação sacroilíaca. A hipomobilidade dessa articulação irá provocar uma discinesia da pelve comprometendo o balanço pélvico durante a marcha, podendo provocar sobrecarga compensatória na coluna lombar. Para realizar o teste, colocamos o paciente sentado sobre a mesa de exame, colocamos os polegares sobre as espinhas ilíaca póstero superior (EIPS). Solicitamos para que o paciente realize de forma lenta a flexão do lombar. Ao realizar a flexão, a pelve irá fazer uma anteroversão e as espinhas ilíacas irão subir discretamente. Na presença de hipomobilidade de uma das articulações sacroilíacas, a articulação sacroilíaca do lado oposto (normal) irá se mover de forma exacerbada fazendo com que a pelve do lado da articulação sacroilíaca hipomóvel irá subir mais que a outra pelve, e nesse caso, o avaliador irá sentir e perceber que a EIPS do lado da articulação sacroilíca hipomóvel irá subir mais que a EIPS do lado normal. Portanto, no teste positivo, a EIPS do lado que a articulação sacroilíaca estiver com hipomobilidade irá subir mais que a EIPS do lado contrário normal.

RESPOSTA NO GABARITO DA BANCA ORGANIZADORA: B

CEPERJ – Assembleia Legislativa MA – 2022 – Questão 39

39 Trabalhador sofre acidente e compromete o movimento de extensão do dedo mínimo, que está correlacionado com o dermátomo:


(A) C8.

(B) T1.

(C) C6.

(D) C7.

Bem parecida com outra questão, essa também é fácil, pra quem estudou claro kk.

• Dermátomos – áreas de pele inervadas por fibras nervosas sensitivas (um único par de raízes por região), que se originam de um único gânglio nervoso dorsal da coluna vertebral.

• Miótomos – áreas musculares inervadas por fibras nervosas motoras (um único par de raízes por região), que se originam de um núcleo gânglio nervoso ventral da coluna vertebral.

Cada nervo inerva alguns músculos (inervação motora):

  • Nervo axilar – músculos deltoide e redondo menor;
  • Nervo radial – músculos posteriores do braço, antebraço e mão. Músculos principais = tríceps braquial, supinador, braquiorradial, extensor radial longo e curto do carpo.
  • Nervo ulnar (C8-T1) – músculos anteromediais do antebraço e hipotenar. Músculos: flexor ulnar do carpo, flexor profundo dos dedos (parte ulnar – medial), adutor do polegar, flexor curto do polegar (profundo), interósseos palmares e dorsais, terceiro e quarto lumbricais.
  • Nervo mediano (C5-T1) – Não inerva nenhum músculo do braço! Inerva todos os músculos da região anterior do antebraço, com exceção do músculo flexor ulnar do carpo (nervo ulnar) e porção medial do flexor profundo dos dedos (nervo ulnar); músculos tenares (polegar – exceto o m. adutor do polegar), 1º e 2º lumbricais.
  • Nervo musculocutâneo (C5, C6-C7) – bíceps braquial, coracobraquial e braquial anterior.

Assim como cada nervo tem sua distribuição sensorial (inervação cutânea):

Miótomos e seus segmentos motores conforme definidos pela ASIA e modo sugerido de exame neurológico:

• C5 (bíceps) >– repouse a mão do paciente sobre o abdômen e peça para mover a mão para o nariz, para eliminar a gravidade. À seguir solicitar ao paciente para flexionar contra a gravidade e manter o movimento. Caso o paciente consiga realizar o movimento, apoie o ombro e aplique resistência.

• C6 (extensor do punho) – pedir ao paciente mover o punho para cima. À seguir peça para o paciente mover o punho para cima e manter. Após, empurre o punho para baixo.

• C7 (tríceps) >- repouse a mão do paciente sobre o abdômen e peça para esticar o braço. Agora peça ao paciente para dobrar o braço e segurar a mão perto da orelha; Se houver movimentação normal, apoie o cotovelo e empurre o braço para baixo, testando contra resistência (não deixe o paciente usar ação escapular).

• C8 – separe o dedo do meio, imobilize a articulação interfalangeana proximal e segure a articulação metacarpofalangeana. Peça ao paciente para dobrar o dedo para os lados. Agora peça para dobrar para cima e segurá-lo. Agora tentar endireitar o dedo e diga ao paciente para resistir a sua ação de resistência.

• T1 (abdutor digiti minimi) – Segurar a mão do paciente e pedir que ele tente mover o dedo mindinho para fora. Sinta a presença de movimentação. Agora peça ao paciente para tentar mover o dedo para fora e manter lá. À seguir teste a resistência contra a resistência, opondo-se ao movimento do V dedo.

RESPOSTA NO GABARITO DA BANCA ORGANIZADORA: A

CEPERJ – Assembleia Legislativa MA – 2022 – Questão 38

38. Para descrever força muscular normal ou diminuída, destaca-se a associação do envelhecimento e da anormalidade com o termo:


(A) sarcopenia.

(B) hipotonia.

(C) bradipenia.

(D) hipertonia

Prova fácil assim deve ter tido muita gente com pontuação alta, essas questões simplesmente não podemos errar sob o risco de condenar completamente o resultado, uma vez que quando a prova é fácil… ela é fácil pra todo mundo.

Sarcopenia é uma palavra de origem grega que significa “perda de carne” e foi reconhecida como doença pela Organização Mundial da Saúde (CID-10M62.84) desde 2016. Trata-se de uma condição definida pela perda de massa e função do músculo esquelético.

O EWGSOP(European Working Group on Sarcopenia in Older People) define sarcopenia como a perda progressiva de massa muscular esquelética e diminuição funcional da musculatura do indivíduo, tendo como principal causa o envelhecimento, mas tendo etiologia multifatorial. Há autores que classificam a sarcopenia como uma síndrome geriátrica que origina a fragilidade do indivíduo, limita a funcionalidade geral, aumenta os riscos de eventos adversos, reduz a qualidade de vida e aumenta os fatores
de morbimortalidade (CRUZ-JENTOFT ET AL, 2010; WOO ET AL., 2015).

Estudos em modelos animais apontam a proteólise muscular como um mecanismo
compensatório sistêmico do envelhecimento que é expressado por hipotrofia e sarcopenia e não é reversível, principalmente devido a diminuição da expressão no organismo de transportadores de aminoácidos e receptores de insulina nos túbulos transversos (GITLER ET AL., 2017).

A atualização do consenso do EWGSOP, publicado em outubro de 2018, traz à tona
uma maior relevância ao critério de força muscular, por considerar um parâmetro mais
facilmente avaliado no âmbito clínico, além de estar mais intimamente relacionado à função muscular. Deste modo quando a (1) força muscular é considerada baixa, considera-se a sarcopenia provável. O diagnostico é confirmado pela presença de (1) baixa quantidade de massa muscular ou (1) baixa qualidade muscular. Quando os 3 critérios estão presentes simultaneamente, a sarcopenia é considerada grave(CRUZ-JENTOFT et al, 2018).

Para tanto, existem diversos testes diagnósticos que podem ser utilizados em processos
de triagens para sarcopenia. Dentre eles, existem aqueles com possibilidade de erro
diagnóstico de sarcopenia, como a medida do ventre muscular da panturrilha que pode
apresentar erro em idosas com excesso de peso. No entanto, existe evidência de alta
concordância que indica o uso de métodos que utilizam o índice de músculo esquelético para classificar velocidade de marcha e massa muscular, além do teste timed up and go indicado para avaliação de desempenho físico (PAULA et al, 2016).


A sarcopenia é uma afecção que aumenta com o envelhecimento e mais prevalente em
mulheres. A pré-sarcopenia está apresenta relação estatisticamente significativa em idosos acima de 70 anos com a recorrência de quedas e contexto de alta vulnerabilidade social. Além disso, a sarcopenia também se apresenta relacionada com a presença de déficit cognitivo e obesidade abdominal (ESPINEL-BERMÚDEZ ET AL, 2018).

RESPOSTA NO GABARITO DA BANCA ORGANIZADORA: A

CEPERJ – Assembleia Legislativa MA – 2022 – Questão 37

37. O reflexo mandibular faz parte de um conjunto de testes para avaliar a integridade do nervo:

(A) vago.

(B) oculomotor.

(C) vestibulococlear.

(D) trigêmio.

O reflexo mandibular:
É obtido percutindo-se a região do mento quando a boca esta entreaberta. A resposta desse reflexo é o fechamento brusco da boca pela ação desse reflexo. A percussão estira as fibras dos músculos mastigadores, ativando, assim, os fusos neuromusculares, que enviam impulsos proprioceptivos para o núcleo do trato mesencefálico do trigêmeo. Os axônios dessa região fazem sinapse com o núcleo motor do trigêmeo, que envia impulsos eferentes para a contração dos músculos mastigadores

Esse reflexo é importante para manter a boca fechada, sendo esse reflexo mínimo em condições normais. Em lesões bilaterais do neurônio motor superior, no entanto, como no caso da esclerose lateral amiotrófica, esse reflexo pode estar exacerbado. No final do vídeo abaixo temos esse teste.

Componente motor do trigêmeo

A raiz motora do trigêmeo acompanha o nervo mandibular e atravessa o forame oval para inervar os músculos mastigadores pertencentes ao 1º arco faríngeo, nas chamadas fibras eferentes viscerais especiais, que irão suprir os seguintes músculos: temporal, masseter, pterigoideo lateral, pterigoideo medial, milo-hioideo e o ventre anterior do digástrico (figura 4). Além disso, o componente motor do trigêmeo também inerva o músculo tensor do tímpano e o tensor do véu palatino.

A função motora do trigêmeo pode ser testada pedindo para o paciente cerrar os dentes, desse modo, o músculo masseter e temporal contraem-se e podem ser avaliados e palpados.

RESPOSTA NO GABARITO DA BANCA ORGANIZADORA: D

Fisioterapia após lesão de LCA e Menisco – V

Protocolo fisioterapêutico – Atualizado em 08/06/2022

Aqui concluo minha série sobre fisioterapia após cirurgia de LCA e menisco. Vou dar ênfase à fase inicial do LCA porque é onde um bom fisioterapeuta pode fazer a diferença na vida dessa pessoa, evitando sequelas funcionais e lesões ao enxerto do LCA. O protocolo explanado abaixo foi elaborado respeitando-se a fase de maturação do enxerto, portanto não é recomendável acelerar tal protocolo. Se eventualmente o paciente possui limitações de fases anteriores mesmo com o passar das semanas, o protocolo deve sempre respeitar a individualidade do paciente.

PS: Vou inserindo os vídeos exemplificando os exercícios conforme vou encontrando bons vídeos.

CIRURGIA PARA O LCA

ENFERMARIA – Cuidados iniciais

Exercícios isométricos: a articulação do joelho pode fazer isométrico do quadriceps, mas podemos fazer também isotônicos do tornozelo e do quadril, buscando a ativação do quadríceps nesses movimentos.

Bombeamento do tornozelo: também chamado de exercício metabólico, é um exercício auxiliar na prevenção de trombose, pode ser usado com elevação da perna e eventualmente uma meia elástica.

Posicionamento em extensão: É algo que deve ser preconicado nas primeiras semanas, evitando-se a todo custo o uso de rolinhos ou tolhas abaixo do joelho operado.

Amplitude de movimento

Flexão: Não é necessário muita pressa para se ganhar flexão de joelho nos primeiros dias após cirurgia do LCA, pode acontecer uma sinovite reativa ao se forçar a flexão, causando edema e retardando o trabalho de ganho de ADM. É possível ganhar ADM de flexão com o decorrer do tratamento. Se chegar a 90º na fase inicial já é um bom resultado. Não forçar flexão além desse ponto nessa fase, o ganho deve ser natural com exercícios ativos leves.

Extensão: Aqui é necessário ter pressa. Perder a extensão nas primeiras semanas após a cirurgia do LCA é algo muito ruim, podendo comprometer todo o tratamento. Ao perder extensão pós cirurgia do LCA, o paciente passa a utilizar o joelho e o quadríceps de forma inadequada.

É comum edema e dor atrás do joelho. Com o edema, a cápsula articular fica distentida e por ser uma região muito inervada, ocorre dor. A posição semifletida, apesar de inadequada, é confortável por não forçar o joelho em nenhum extremo. No entanto, posicionar toalhinha e rolinho atrás do joelho após a cirurgia do LCA é algo muito danoso para o tratamento. É preciso conscientizar o paciente que a dor e o incômodo após a cirurgia do LCA são temporários e são menores que a dor e os danos que a perda da extensão pode causar. É preciso manter extensão do joelho ao sentar e ao deitar nos primeiros dias.

Quando estamos em pé com extensão completa do joelho, há um bloqueio mecânico fisiológico, o vetor na articulação é pequeno, a ação muscular do quadríceps é baixa e a carga na articulação patelofemoral é aliviada. Ao realizar a marcha com o joelho em leve flexão, a carga mecânica na articulação patelofemoral é aumentada drasticamente. O quadríceps passa a ser solicitado a todo momento, se ele não estiver ativo o paciente pode chegar até a sofrer uma queda, e a cada passo a articulação patelofemoral é solicitada, não há mais o bloqueio mecânico fisiológico.

LCA – cuidados de 1a a 4a semanas

Muletas: é preciso cautela para inserir os exercícios sem exacerbar o processo inflamatório.

O paciente não deve realizar a marcha de muletas com o pé do joelho operado no ar, em leve flexão do joelho. É preciso descarregar o peso com segurança, de forma progressiva. Observar que é comum uma redução da fase de apoio sobre o membro operado. É. interessante trabalhar descarga de peso no membro operado.

A retirada das muletas é realizada quando há pouca dor e pouco edema, quando há confiança do paciente em jogar todo o peso no membro operado, quando há força do quadríceps, sem ocorrência do “sinal de LAG” e quando o paciente é capaz de ficar 30 segundos apoiado sobre a perna operada.

Observar nessa fase se está havendo solicitação de isquiotibiais que limitem a extensão do joelho. Se for constatado espasmo dessa musculatura, é preciso realizar uma liberação desse grupo muscular para que a extensão possa ser realizada com maior facilidade pelo quadríceps.

Forçar flexão de forma descuidada pode causar sinovite reativa, causando edema.

CCA(Cadeia cinética aberta) X CCF(Cadeia cinética fechada) pós cirurgia do LCA

O quadríceps é um antagonista do LCA, ele favorece a anteriorização da tíbia, tensionando o LCA em algumas amplitudes. Entre 90º e 60º de extensão inicia-se alguma tensão no LCA. De 60º a 45º de extensão a tensão no LCA, mesmo em cadeia cinética aberta, é quase nenhuma. Após 45º de extensão e principalmente a partir de 30º de extensão inicia-se um tensionamento maior no LCA, realizar exercícios nessa angulação, principalmente em CCA, numa fase inicial do tratamento pós cirurgia do LCA, pode favorecer o lasseamento do enxerto. Em CCA o quadríceps é isolado. Em CCF o quadríceps é auxiliado por outros músculos, como glúteos.

Angulação de proteção em CCA: de 90º a 60º de extensão (não ocorre alteração com carga), e de 60º a 45º de extensão(não é perigoso aumentar carga). Essa angulação é mantida até o 3º mês, em cirurgias realizadas com enxerto do tendão dos flexores. O tendão patelar já tolera amplitude maior após o primeiro mês, no entanto a maior parte das cirurgias realizadas no Brasil são realizadas com o tendão dos flexores

Angulação de agressão em CCA: de 15º a 0º de extensão, sendo o uso de carga algo proporcionalmente mais danoso. O pico de tensão no enxerto do LCA em todos os exercícios é maior perto da extensão total. Em estudos recentes, não houve diferença significativa nos padrões de tensão entre 30, 50 e 70 graus, tanto no ciclo excêntrico como no concêntrico ao subir e descer degraus, no exercício afundo e no exercício de sentar e levantar de uma cadeira. Sem diferença entre excêntrico e concêntrico.

Em CCF é maior a força de compressão, estabilizando o joelho e reduzindo o cisalhamento. São exercícios seguros para o LCA por oferecer baixa tensão ao enxerto. Estudos demonstram que ao se associar exercícios em CCA na angulação de proteção com exercícios em CCF os resultados são melhores que apenas em CCF.

Ao combinar a contração ativa do quadríceps com recursos de estimulação elétrica funcional como FES ou corrente russa, há um recrutamento maior de unidades motoras e consequentemente maior força muscular. É um fenômeno explicado pela inibição artrogênica, que é a incapacidade de se recrutar de maneira voluntária todas suas fibras musculares. As causas mais comuns da inibição arttrogênica são dor, edema, lesão de mecanorreceptores articulares.

A partir da segunda semana já se inicia também o trabalho na bicicleta ergométrica. Carga e velocidade não são agressivos ao enxerto do LCA.

Isquitiobiais

A contração dos isquiotibiais não gera tensão no LCA. No entanto, a maioria das cirurgias feitas no Brasil são realizadas com o tendão dos flexores, onde o cirurgião retira o tendão do semitendíneo e do grácil. Por isso é contraindicada a contração dos posteriores da coxa nas primeiras semanas quando o enxerto é retirado desse local. No caso de reconstrução com enxerto de tendão patelar, esses exercícios podem ser realizados.

Glúteo médio

O mecanismo de lesão do LCA envolve adução do quadril. O valgo dinâmico tem um grande componente de adução do quadril. O Tensor da fascia lata é abdutor mas também realiza rotação medial do quadril. Já o glúteo médio favorece rotação lateral. Por isso são o alvo inicial da reabilitação do LCA.

Glúteo máximo

É o principal extensor do Quadril. É também o principal rotador lateral do quadril, superando nessa função os músculos pelvetrocantérianos (piriforme, gêmeo inferior, gêmio superior, obturador interno, obturador externo e quadrado femoral). E sua fibra superior realiza abdução do quadril. Portanto, o glúteo máximo trabalha em 3 planos com muita eficiência.

Tríceps Sural

Musculatura propulsora da marcha e da corrida, principalmente o sóleo,o tríceps sural é funcionalmente muito importante.

Fortalecimento de tríceps sural. Bilateral inicialmente, progredir para fortalecimento apenas do lado operado. E posteriormente unilateral com a ponta do pé apoiado em um degrau. Para o músculo sóleo pode ser usada um peso sobre o joelho e elevar o calcanhar. Para se avaliar a descarga de peso, uma vez que o paciernte tem a tendência a descarregar mais peso no membro não operado, podemos utilizar uma balança em cada perna.

Lesão de LCM é raramente cirúrgico, é muito vascularizado e possui boa cicatrização. Normalmente quando há lesão de LCA associada ao LCM e ao menisco medial, também chamado de tríade terrível, o cirurgião aguarda ao menos até a 4ª semana para a cicatrização do LCM para operar o LCA. No tratamento pré-operatorio do LCA devemos evitar o stress em valgo do LCM, para não prejudicar a cicatrização.

EVOLUÇÃO DO TRATAMENTO DO LCA

1ª a 4ª semana

Crioterapia e bombeamento do tornozelo

Mobilização passiva suave, sem forçar ganho de ADM, principalmente se já estiver com 90º de flexão.

Mobilização de patela, principalmente se cirurgia com exerto do tendão patelar

SLR(straight leg raise, levantamento da perna em extensão):

Para zerar sinal de lag, retiramos esse exercício do protocolo assim que houver boa ativação do quadríceps. Paciente em DD, tornozelo ativamente em dorsiflexão, joelho em extensão com ativação do quadríceps. Fisioterapeuta deve estabilizar a pelve do paciente inicialmente. Trabalhar também ativação da musculatura do “core” nas primeiras semanas.

Exercício Wall Slide

Se não houver zerado a extensão na 2ª ou 3ª semana de PO do LCA, iniciar o exercício de extensão em decúbito ventral e com os MMII para fora da maca, com a patela para fora da borda da maca e deixando a gravidade realizar extensão ficando em repouso por alguns minutos. Com o passar dos dias podemos utilizar caneleiras de 1kg nessa posição.

SLR com FES, corrente russa ou corrente aussie estimulando o quadríceps. Paciente eleva a perna quando o aparelho iniciar a contração, paciente ativa o quadríceps antes de elevar a perna. Não realizar esse exercício se houver um lag, a idea do SLR é zerar a fase de apoio da marcha. O sinal de lag irá causar tensão no enxerto.

SLR lateral:

Dorsiflexão ativa do tornozelo e ativação do quadríceps, como no SLR frontal. Realizar leve extensão do quadril, por volta de 20º. Nessa angulação, realizar abdução do quadril mantendo os 20º de extensão, sem subir a pelve durante a abdução para não utilizar a musculatura do quadrado lombar. Fisioterapeuta deve estabilizar a pelve do paciente inicialmente. Utilizar uma faixa elástica acima dos joelhos para aumentar a efetividade do exercício.

Treino de marcha: pode ser realizado com carga total, com as duas muletas e progredindo gradualmente. Podemos retirar uma das muletas já na 2a semana, mantendo a muleta no lado oposto ao joelho operado. Prestar atenção às compensações que o paciente eventualmente realiza, como rodar o pé lateralmente ou reduzindo a fase de apoio do membro operado. Pode ser útil trabalhar apoio unipodal no membro operado nesse período.

Amplitude de movimento

Flexão: podemos preconizar 90º na primeira semana e evoluir 10º a cada semana, no entanto se houver amplitude maior isso é bom e devemos ganhar ainda mais, sempre de forma cuidadosa. Algumas cirurgias como a sutura de menisco impõe limites para flexão, não é o caso aqui. Até a quarta ou quinta semana prioriza-se o ganho de flexão ativo e ativoassistido, como no exercício Wall Slide. A partir desse período, inicia-se o ganho de ADM passiva, principalmente a partir dos 120º.

Extensão: devemos buscar 0º de extensão, e após as primeiras semanas esse objetivo já deve ser alcançado. Se não houver extensão completa na 4ª semana mesmo seguindo o tratamento de forma correta, é preciso avaliar se o posicionamento do túnel tibial ou femoral pode não estar favorável. Nesse caso, o trabalho em equipe é fundamental, é preciso uma reavaliação médica. Caso não exista nenhum problema relacionado a isso, nesse momento é preciso priorizar esse ganho de extensão.

CCF E CCA: Os exercícios em CCF vão evoluindo em amplitude até a entrada dos exercícios em CCA na 4ª semana, na angulação de proteção de 90º a 45º com associação de eletroestimulação.

Isquiotibiais: Para cirurgias de tendão patelar esse grupo já pode ser fortalecido de forma precoce. Para quem realizou cirurgia com enxerto do tendão dos flexores, inicia-se o fortalecimento a partir da 4ª semana.

Treino Sensoriomotor: Já podemos iniciar exercícios com enfase em propriocepção, como subir degraus e rampa.

4ª semana

Extensão resistida: Exercício em CCA, Extensão com paciente sentado na borda da maca e com eletroestimulação no quadríceps, utilizando-se uma toalha abaixo do joelho para sair de 90º de flexão, uma vez que sem esse apoio a massa dos glúteos fará com que o joelho incline para baixo. Utilizar um elástico amarrado no pé da maca. Com o tornozelo em dorsiflexão, ao entrar o estímulo da corrente, realizar a extensão na angulação de proteção, que vai até 45º.

Ostra(a partir de 0:40 no vídeo abaixo)

Paciente em decúbito lateral, membro operado para cima, quadril a 45º de flexão e joelho a 90º, faixa elástica amarrada acima do joelho, realizar a abertura do joelho com abdução da coxa. Esse exercício realiza ativação do complexo posterolateral do quadril.

Cachorrinho: Na posição de 4 apoios, evitando-se toda compensação lombar e cervical, coluna neutra, realizar abdução + extensão + rotação lateral do quadril, evitando-se a compensação no quadril durante o movimento ao apoiar sobre o membro não operado e a extensão do joelho, que deve permanecer em 90º. É um exercício que ativa a musculatura do glúteo máximo.

Ponte: Realizar a ponte com ativação do core antes de elevar o quadril e faixa elástica amarrada acima do joelho, realizando leve abertura dos joelhos. Pode ser realizado com sustentação em isometria ou em repetições.

Flexão ativa do joelho: Em decúbito ventral, manter a perna não operada fletida em 90º, joelhos para fora da maca e travesseiro abaixo da barriga para estabilizar a lombar. Principalmente em cirurgias com enxerto dos flexores, não utilizar carga num primeiro momento. Realizar flexão até 90º.

Esse exercício pode ser realizado em pé. O membro não operado fica apoiado sobre um step ou degrau, Realizar leve extensão do quadril do lado do joelho operado e realizar nessa posição uma flexão do joelho até 90º, evitando-se compensação lombar.

Eventualmente o paciente pode sentir uma pontada e ocorrer uma equimose. O que ocorre é que pode haver uma fibrose na região da cirurgia e durante os exercícios ativos um capilar pode se romper e causar um extravazamento de sangue desse capilar na região posterior e lateral da coxa. Não é sinal grave, a região tende a ficar com tom esverdeado e o sangue ser drenado pelos linfonodos da região do joelho.

Agachamento com rolinho na região torácica média apoiado na parede, elástico acima dos joelhos, agachar até 45º e manter a isometria.

Agachamento afundo: um pé atrás, joelho da frente não pode ser projetado a frente da ponta do pé, flexão 0 – 45º, tronco inclinado para frente(estratégia do quadril), na ponta do pé do joelho operado.

5ª a 7ª semana

Bicicleta ergométrica com carga e com velocidade.

Aumenta a amplitude do agachamento até 60º de 5ª a 7ª semana, se possivel unipodal e no legpress com carga baixa.

Fortalecimento dos isquiotibiais: com elásticos ou caneleira, para quem fez enxerto dos flexores

Ponte

Degraus: Subir degraus já havia iniciado, e inicia-se treino para descer escadas

Cama elástica(mini trampolim), unipodal. Se atleta, podemos evoluir na cama elástica com elástico amarrado acima dos joelhos e abdução, estimulando um valgo do joelho em superfície instável.

8ª a 9ª semana

Ponte sustentada com apoio unipodal e extensão do joelho contralateral

Ponte com elástico, ativando o core, pernas elevadas sob step ou sob uma bola.

Prancha lateral com elevação do membro superior de cima

Prancha frontal, apoio unipodal se o paciente já possui boa força de quadríceps

Balancim ou pranchinha de inversão e eversão do tornozelo, apoio unipodal

Cama elástica(mini trampolim), unipodal. Se atleta, podemos evoluir na cama elástica com elástico amarrado acima dos joelhos e abdução + extensão, mãos na cintura.

Agachamento em superfície instável, limitando a 90º

Apoio unipodal na prancha proprioceptiva, terapeuta agachado a frente mantendo o controle do valgo com a mão.

Agachamento unipodal com resistencia elástica, utilizando estratégia do quadril com 45º de flexão de quadril. Braços estendidos a frente. Inicia bipodal para encontrar o equilíbrio.

Agachamento bipodal no Bosu. Elástico acima do joelho.

Elástico de frente ao espaldar. Elástico na fossa poplítea para não anteriorizar a tíbia. Realizar extensão do joelho. Evolui exercício com esticar e dar um passo a frente.

10ª a 11ª semanas

Após ganho de ADM, treino de condicionamento e sensorio motor bem realizados, podemos iniciar o treino de saltos e o treino de corrida nessa fase,

A corrida diferencia-se da marcha pela fase aérea. Na marcha sempre temos um dos pés no chão. Durante a corrida, os dois pés ficam sem contato com o solo a cada passada, essa é a fase aérea da corrida, como se fossem vários saltos unipodais consectutivos.

Havendo grande desvio em valgo, o treino de corrida deve ser postergado.

Marcha lateral com resistência elástica (monster walk, a partir de 1:45 no vídeo abaixo)

Saltos na cama elástica(mini trampolim)

Glúteo em apoio unipodal, descer degrau lateralmente, apenas tocar o solo e voltar.

Desce degrau de frente, controlando o valgo dinâmico.

Levantar da cadeira unipodal, com travesseiro de suporte no assento para não sair de 90º de flexão de joelho(ideal 80º a 70º), e elástico acima do joelho.

Salto bipodal com elástico acima do joelho e estratégia do quadril.

Deslocamento lateral, três passos laterais levanta a perna do lado de dentro, com elástico acima dos joelhos.

12ª a 15ª semanas

CCA cadeira extensora, 0 – 90º, a angulação de proteção não é mais necessária nessa fase

Exercício nórdico para isquiotibiais em CCF.

Desaceleração, corrida de poucos passos freiando numa só perna com estratégia do quadril.

Desaceleração com mudança de direção.

Pliometria(aumenta a performance do atleta).

Pulando no step com as duas pernas e depois dar mais um salto.

Afundo dinâmico, saltando e alternando as pernas

Salto do caixote ou do step para o chão, com estratégia do quadril. Salto bipodal e salto unipodal.

Evoluir chão, step, chão.

Salto unipodal, ponto de início, frente, meio, atrás, meio, direita, meio esquerda, meio. Evoluir aumentando numero de repeticoes ou usando step.

Salto tipo Hop test, 2 saltos à frente com as mãos para trás e corridinha.

Salto unilateral. Nessa fase se ainda houver valgo dinâmico, é preciso cuidado ao evoluir com a pliometria em atletas, que numa fase posterior será com saltos mais desafiadores e giros.

Salto no step com giro e retorno. (Chão, step, gira e salta de volta para o chão).

Circuito (exemplo: balancim, passos no minitramp, disco proprioceptivo)

Salto bipodal com elástico acima do joelho e aterrizar unipodal. Evolui salto e retorno unipodal. Controlando valgo dinâmico.

Trabalho excêntrico de isquiotibiais. Terapeuta extende joelho do paciente totalmente fletido, paciente em DD, paciente resiste a extensão rápida.

Deslocamento lateral. 3 passos monster walk eleva a perna de dentro.

Isquiotibiais excêntrico

Desaceleração

Saltos

Pliometria

Giro(carioca ou marcha lateral com giro)

Gestos esportivos(no ambiente)

5º mês

Utilizar gesto esportivo específico.

Deslocamento lateral com cone

Corrida com resistência, terapeuta resiste com faixa elástica na barriga e a cada 30 segundos cede um passo.

6º mês (atletas)

Gesto esportivo, no ambiente. Avaliar critérios de retorno antes de liberar o atleta para treinamento.

Critério de retorno

Crossover Hop test

3 saltos cruzando uma linha, comparar salto do membro operado com o membro contralateral. Difererença mínima é aceitável, por volta de 10 a 15% de défict de força da perna operada.

Questionario Lysholm e IKDC (em atletas podem ser insuficientes)

Considerações finais

É muito importante ter conhecimento da técnica cirúrgica realizada e das lesões associadas

O protocolo não é absoluto, mas é um guia seguro. Critérios de evolução de acordo com a fase de maturação do enxerto e com a resposta do paciente. Alta do tratamento fisioterapêutico deve ser realizada com segurança. Todos os critérios de alta ainda não evitam uma nova lesão, mas minimizam o erro.

CIRURGIA PARA SUTURA DE MENISCO

Diferente de outros procedimentos realizados no joelho, a descarga de peso não pode ser realizada de forma precoce em cirurgias para sutura do menisco. Principalmente em lesões radiais do menisco. A liberação para descarga de peso parcial e progressiva deve respeitar a cicatrização da sutura.

A amplitude é segura até 90º no mesmo período da descarga de peso. Na 4ª semana começa a progredir com amplitude, já há boa cicatrização. Na 6ª semana de PO já temos boa segurança e na 8ª semana segurança total para trabalhar amplitude.

Máximo de amplituide apenas a partir do 3º mês.

Restringir a amplitude da flexão até 90º

Fortalecimento dos isquiotibiais: o semimemnbranáceo tem inserção no corno posterior do menisco medial, que é uma região muito lesionada. Postergar ativação de isquiotibiais até ao menos a 4ª semana. A contração pode puxar o menisco e afastar a sutura. Em outras regiões de lesão pode-se trabalhar a ativação dessa musculatura.

CIRURGIA PARA MENISCECTOMIA

Aqui é uma situação completamente diferente da sutura de menisco no que se refere ao tratamento fisioterapêutico.

A retirada de parte do menisco não é um impeditivo para a realização de mobilizações precoces. Nesse tipo de procedimento o cirurgião retira o flap do menisco, a parte lesionada, via artroscopia. Nesse tipo de cirurgia não é necessário aguardar nenhum processo de cicatrização, apenas os furos que foram os túneis da artroscopia. Nenhum tecido importante do joelho sofreu intervenção que necessite aguardar uma cicatrização.

Após controlar o processo inflamatório inicial, não há restrição de ADM ou carga. Podemos progredir de acordo com a evolução do paciente. Normalmente em 3 semanas já há liberação até para a prática de esporte.

CEPERJ – Assembleia Legislativa MA – 2022 – Questão 36

36. Paciente do sexo masculino, 23 anos, digitador. Procurou ambulatório queixando-se de hipoestesia, hipotrofia, limitação da movimentação do braço direito e dor durante esforço ou ao toque por compressão na região cervical. Refere afastamento das atividades laborais por 12 meses consecutivos. Tais distúrbios das raízes nervosas são sintomas dominantes da síndrome de:


(A) cervicobraquialgia.

(B) tensão do pescoço.

(C) pronador redondo.

(D) canal de Guynon.

Um ano afastado de trabalho, alteração sensitiva e motora no braço direito e o diagnóstico é tensão no pescoço!? A “B” é hilária.

Por mais óbvio que pareça, a dor cervical descrita, a irradiação de sintoma sensitivo para o braço e a perda funcional já sugerem alguma lesão cervical.

O sindrome do canal de Guyon, que está escrita de forma incorreta na alternativa “D” e caso fosse a alternativa correta deveria ser anulada, cursa com compressão de nervo ulnar. Ocorre compressão do nervo ulnar na região hipotenar do punho (região do ligamento carpal palmar até a arcada fibrosa da musculatura hipotenar entre o osso pisiforme e o gancho do osso hamato), canal de Guyon, onde este nervo se bifurca.

A síndrome do pronador redondo também afeta o antebraço sem incidir em região cervical. Essa síndrome é caracterizada por dor vaga na superfície volar do antebraço, com parestesias na área de inervação sensitiva do nervo mediano e achados motores mínimos.

RESPOSTA NO GABARITO DA BANCA ORGANIZADORA: A

CEPERJ – Assembleia Legislativa MA – 2022 – Questão 35

35. Uma das definições de Ergonomia é ciência que estuda o homem e seu:

(A) Descanso.

(B) meio ambiente.

(C) ambiente de trabalho.

(D) lazer.

E aí hein!? Essa é uma bela pegadinha porque na hora as alternativas “b” e “c” parecem corretas. Mas ergonomia está ligada ao trabalho e meio ambiente é uma definição abrangente demais.

Qual é a principal função da ergonomia?

ergonomia visa desenvolver, de forma confortável e produtiva, a ligação entre o ser humano e o trabalho. Ao adaptar as condições trabalhistas às características do profissional, ela evita os riscos ergonômicos e proporciona mais saúde, conforto, segurança e bem-estar.

Quais são os principais tipos de ergonomia?

Para direcionar as ações e estudos na área, a ergonomia é subdividida em alguns tipos básicos.

Ergonomia física

Entre os diferentes tipos de ergonomia, a física é aquela que se dedica às relações entre a anatomia humana e as atividades realizadas em determinado ambiente. 

Para isso, os seguintes aspectos são levados em consideração:

  • O perfil postural adotado durante as atividades laborais;
  • A possível ocorrência de movimentos repetitivos;
  • O manuseio de materiais;
  • A saúde e a segurança do colaborador durante determinado trabalho;
  • Possíveis distúrbios musculoesqueléticos oriundos de certa atividade;
  • Projeção das estações de trabalho.

Nessa área, os diferentes recursos utilizados pelos usuários, como:

  • Cadeiras
  • Ferramentas;
  • Equipamentos;
  • Entre outros, são analisados e adequados às medidas do corpo, para que favoreçam os padrões fisiológicos e psicológicos dos indivíduos.

Ergonomia organizacional

Na ergonomia organizacional, o foco está nas políticas de determinada instituição e sua relação com as pessoas que fazem parte dela.

Entre os pontos analisados nesta matéria, estão:

  • Os sistemas de comunicação interna;
  • A cultura organizacional;
  • Qualidade gerencial;
  • Atividades cooperativas ou feitas em grupo;
  • Organização em rede e projetos participativos.

Seu principal objetivo é avaliar e propor transformações na estrutura da organização, para que os colaboradores não sejam sobrecarregados. Além disso, que também não sofram com problemas ligados à atividade laboral.

Ergonomia cognitiva

Já a ergonomia cognitiva é aquela que avalia os processos mentais humanos e compreende como eles influenciam as relações dos indivíduos com os espaços e também com outras pessoas.

Assim, são considerados a percepção, o raciocínio, a memória, a velocidade de resposta e outros aspectos semelhantes dos indivíduos. Isso porque, contém a finalidade de direcionar as decisões voltadas à redução da pressão mental e do estresse nas empresas.

Ergonomia de necessidades específicas

Ligada à área da ergonomia física, a ergonomia de necessidades específicas lida com as necessidades e as alternativas ergonômicas voltadas às pessoas com condições ou necessidades especiais.

Ergonomia ambiental

A ergonomia ambiental visa compreender qual é a configuração ambiental mais adequada para a criação de um ambiente seguro, confortável e agradável.

Por sua vez, a ergonomia ambiental estuda os aspectos do espaço físico que influenciam o comportamento humano, como:

  • A iluminação de estações de trabalho
  • Os níveis de som;
  • Temperatura;
  • Pressão, e assim por diante.

Ergonomia preventiva

Por fim, há a ergonomia preventiva, que tem como objetivo conscientizar os usuários de determinado espaço a respeito da importância dos corretos padrões ergonômicos para a sua saúde física e mental.

Ou seja, trata-se da área que visa combater problemas, desconfortos e lesões antes que os mesmos ocorram. Dessa forma, todos os responsáveis pela composição do ambiente atuam para que ele seja o mais ergonômico possível.

Existe também essa outra nomenclatura sobre os tipos de ergonomia:

RESPOSTA NO GABARITO DA BANCA ORGANIZADORA: C